Para promovermos um ambiente enriquecido para um gato é fundamental entendermos as características naturais da espécie, que ainda preserva sua natureza selvagem, sendo considerado um animal semi-domesticado.
Gatos são carnívoros especializados, de hábitos crepusculares, territorialistas, com origem ancestral solitária e possuem a condição de serem predadores, mas também presas de outros animais, na natureza.
Essas são algumas características chaves para entendermos quem são os gatos e assim adaptarmos o ambiente doméstico para que este proporcione bem-estar.
O fato de serem carnívoros especializados, os tornam caçadores hábeis e muito eficazes, sendo esta uma característica central da espécie.
Desta maneira, um dos principais enriquecimentos que devemos proporcionar no ambiente de um gato é a oportunidade de realizar comportamentos de caça diariamente.
Como caçadores de pequenas aves, roedores, répteis e insetos, os estímulos de caça devem conter características que possuam cheiros, sons e movimentos de presas.
Brinquedos que contenham penas, pelo, que simulem movimentos rastejantes, de se entocar ou de voar, engajam os gatos em desafios necessários para o seu bem-estar cognitivo e físico.
Ainda em relação ao seu instinto aprimorado para a caça, é necessário encorajar que o gato tenha desafios para se alimentar, como comedouros cognitivos, promove enriquecimento do comportamento alimentar, estimulando cognição, sistema motor e órgãos do sentido.
O período de atividade de um felino em seu ambiente natural é crepuscular, o que indica que ele está mais ativo ao entardecer e ao amanhecer, período este que suas presas estão mais vulneráveis a serem caçadas.
São os momentos ideais de proporcionarmos os estímulos de caça.
O territorialismo influencia na maneira como o gato percebe e interage com seu ambiente, em relação a presença de seus odores corporais, assim como na defesa e proteção dos recursos que necessita para sobreviver.
Os recursos fundamentais: alimento, água, locais de descanso e abrigo, caixas de areia e arranhadores, devem estar presentes no ambiente de maneira dispersa e multiplicada, para que este território seja demarcado com seus odores corporais trazendo conforto e bem-estar.
Preferem ocupar locais mais elevados do solo para melhor controle deste território, como prateleiras e nichos, em pontos que privilegiem a visão do ambiente assim como do externo (varandas e janelas), proporciona um enriquecimento visual, olfativo, físico e também auxilia no gasto energético, aumentando a exploração deste ambiente.
De hábito solitário em sua ancestralidade, os gatos vêm se adaptando a viver em comunidade (colônias), e pesquisas já comprovam que quando os recursos estão em abundância, os gatos se agrupam na natureza.
Desta maneira, quanto mais gatos no ambiente, mais recursos dispersos e multiplicados devemos proporcionar. Por fim, a condição de ser ao mesmo tempo presa e predador na natureza, os colocam em uma posição de estarem sempre atentos nos movimentos de suas caças e ao mesmo tempo, alertas para não serem caçados. Por isso os gatos são tão silenciosos e possuem os sentidos bem aguçados e desenvolvidos para detectarem pequenos e minuciosos movimentos, assim como odores.
Portanto, o ambiente do felino deve promover oportunidades de locais de descanso que sejam como refúgios sempre com rotas de fuga (entrada e saída).
Tocas, nichos, túneis, redes são exemplos de enriquecimentos que auxiliam o lado presa e predador dos bichanos.
Enriquecendo o ambiente do gato de maneira a estimular seu instinto de caça diariamente em horários do crepúsculo, proporcionando desafios alimentares, com recursos ideais multiplicados e dispersos, locais elevados, refúgios com rotas de fuga e um território odoriferamente seguro, promoveremos bem-estar de maneira efetiva que assegure condições físicas e psicológicas otimizadas.
Bióloga formada pela FESL. Mestre em Psicobiologia pela USP. Doutora em Psicobiologia pela USP e UCC (Irlanda). Especialista em comportamento e bem-estar de felinos. Atua na área como pesquisadora há mais de dez anos, estudando felinos domésticos e silvestres. Fundadora da WellFelis Comportamento e Bem-Estar Felino.
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